por Ethevaldo Siqueira

O software brasileiro tem tudo para decolar e ganhar o mundo, especialmente após a divulgação do estudo denominado A Indústria de Software no Brasil ­ 2002, elaborado pela Softex em parceria com o Massachusetts Institute of Technology, o famoso MIT, comparando o mercado do Brasil, China e Índia, e concluindo que a indústria brasileira de tecnologia da informação (TI) está pronta para competir em pé de igualdade com seus grandes concorrentes internacionais. O estudo apontou tanto os pontos fortes quanto os principais obstáculos para a ampliação da participação do software brasileiro no mercado mundial.

As conclusões do estudo foram divulgadas e debatidas em Boston, dia 15 de setembro, em reunião promovida pela Neolink, empresa especializada no desenvolvimento de investimentos internacionais, em cooperação com a Softex e a G&P ­ Gennari & Peartree. O trabalho foi apresentado a empresários norte­ americanos e brasileiros, jornalistas e pesquisadores, pelo professor português Francisco Veloso, da Universidade Carnegie Mellon. O embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, também esteve presente ao encontro.

Sucesso ­ A repercussão do evento foi surpreendente. A propósito, a jornalista Alexandra Weber, editora da Chief Software Development Magazine, uma das revistas mais respeitadas do setor, acaba de publicar artigo intitulado “South American Sensation”, referindo­se ao Brasil e às novas condições de competição do software brasileiro no mercado norte­americano e internacional.

Para Manoel Baião, presidente da Neolink, “o Brasil nunca esteve em posição tão privilegiada para aumentar seu comércio com os Estados Unidos”. E destaca que o mercado norte­americano é particularmente receptivo à chegada do software brasileiro por diversos fatores, entre os quais a proximidade de fuso horário, as semelhanças culturais e, mais importante, a necessidade que os Estados Unidos sentem de maior aproximação e consolidação de suas relações com os demais países das Américas, dentro da nova estratégia de competição com os blocos europeu e asiático.

US$ 100 bi ­ Segundo prevê o presidente da Neolink, o mercado norte­americano pode alcançar cerca de US$ 100 bilhões por ano na próxima década. Esse crescimento exponencial decorre da criação de novos segmentos de negócios, como serviços de desenvolvimento de software, centros de contato (contact centers) e a onda de se recorrer a provedores externos de serviços (external service providers), criando oportunidades que passam a ser oferecidas preferencialmente a fornecedores internacionais e não mais aos domésticos, norte­ americanos, cujos custos são mais elevados. Além disso, entre as causas que levam as empresas americanas a se voltar mais para o mercado global, está a crescente atratividade das condições econômicas de países como o Brasil, que oferecem não apenas custos menores de infra­estrutura, mas também estabilidade política e institucional.

Aprendizagem ­ Para o Brasil, tem sido um longo caminho de aprendizagem e capacitação. A competência nacional em software, contudo, amadureceu de forma bem mais rápida nos anos 1990, graças ao Programa Softex 2000 e ao trabalho da Sociedade Brasileira para Promoção da Exportação de Software (Softex), entidade de apoio setorial. Entre outras atividades, essa entidade, hoje conhecida apenas pelo nome de Softex, estimula investimentos, prepara planos de negócios e orienta as empresas de software brasileiras para exportar.

Entre os três países estudados, o Brasil tem o maior mercado interno de software, da ordem de US$ 7,7 bilhões, pois exporta apenas 1,5% desse total, em produtos e serviços, o que contrasta profundamente com a Índia, cujas exportações superam 70% de seu mercado total, de US$ 8,2 bilhões, basicamente sob a forma de serviços.

O mercado chinês, por sua vez, alcança US$ 7,4 bilhões, 60% dos quais são representados por serviços e exportações de apenas 5,5%. Enquanto a Índia leva nítidas vantagens sobre o Brasil e a China quanto ao domínio da língua inglesa e quanto à mão­de­obra ­ que combina baixos salários e elevada competência ­, o Brasil associa competência profissional com vantagens econômico­financeiras, em boa medida por causa da desvalorização do real. E, curiosamente, o País concentra número muito maior de multinacionais de software em seu território do que seus concorrentes asiáticos, entre as quais IBM, Microsoft, SAP, Dell, Oracle, Accenture, NEC, Oracle, Sun, Cisco e Computer Associates.

Economia Digital

Algumas das melhores empresas brasileiras de software ainda são desconhecidas do grande público. Muitas delas, no entanto, devem se tornar gigantes em poucos anos. Faça um teste, leitor, e veja que empresas conhece, entre as seguintes: 7Comm, Aronis, Atech, Azin, Bankware, Bysoft Solutions, C&C, CMA, CM&R, CRK, DMC, Easy, Execplan, Extol, GFMI, Health, Inova, Intelligent Software, Itech, Labcom, Linkware, Logical, Microsiga, Multimedia Café, N­Stalker (núcleo tecnológico da ZMT), Neolog, Next, Opus, Paradigma, Powercam, Rossi, Sistemas Metodológicos, SDC, Team, Technology Supply, TMS, Tornero, Transcorp, W3Pro e a YMF.